Parapenteluso

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2/17/2006

LANÇAR O RESERVA


CONSIDERAÇÕES GERAIS
1. O grande problema do eventual uso do paraquedas de emergência ( reserva), tem a ver com o facto de os pilotos de parapente que voam por lazer ( a grande maioria), embora quase sempre o transportem integrado no arnês, não considerarem como provável a eventual necessidade de o utilizar e por isso descuidam a sua preparação individual em termos de estudo das várias situações em que o deverão lançar ( se necessário ), a maneira como o poderão fazer e todos os procedimentos necessários, incluindo a chegada ao solo.
2. É fácil encontrar pilotos que adquiriram o seu reserva à vários anos, o transportam no arnês, mas que nunca o submeteram a qualquer revisão, de modo que não fazem a mais pequena ideia se ele funcionará adequadamente em caso de necessidade absoluta.
3. Eu nunca utilizei o reserva, mas nos dois últimos anos assisti a três situações em que pilotos o utilizaram com sucesso absoluto, isto é regressaram a "casa" sem nada quebrado e em dois dos casos estavam a voar de novo no dia seguinte.
4. Como muitos dos nossos voos se desenvolvem na proximidade do solo, necessitamos de "reservas" que abram rapidamente e consigam trazer o piloto até ao solo de uma forma estável. Pelo que tenho lido e pelo que vi, a abertura dos reservas actualmente em uso, desde que tenham a manutenção correcta, não apresenta problemas e é bastante rápida, já a estabilidade oferece alguns problemas, pois pelo facto de a sua trajectória ser afectada pela asa, que nem sempre o piloto tem tempo para recolher ou possibilidade de controlar, provoca oscilações pendulares mais ou menos acentuadas, que quando da chegada ao solo são normalmente responsáveis por impacto ou "choque" em posições de perigo agravado.
Quando lançar
5. Embora possa parecer demasiado radical, quem usa "reserva" tem no mínimo o dever de efectuar mentalmente, antes de cada voo, uma revisão das diversas situações, que no seu entender podem ditar o respectivo lançamento.
6. Cada um poderá estabelecer as suas prioridades, no entanto existem situações que genericamente são consensuais quanto à exigência do lançamento do reserva, nomeadamente: Colisão no ar, falha grave do parapente ou linhas, atitudes anormais de difícil recuperação, grandes fechamentos ou colapsos, gravatas ou perda de controlo total.
Primeira prioridade
7. Avaliar rapidamente a situação quanto à necessidade do lançamento. Se estiver baixo poderá não ter muito tempo até ao impacto com o solo. Da rapidez do lançamento pode muitas vezes depender a sobrevivência do piloto.
Depois de lançado
8. Como nunca lancei o reserva vou limitar-me ao que é consensual.
- Se estiver próximo do solo deve preparar-se imediatamente para impacto (choque) configurando a posição PLF(ver parágrafo 11 e 12 mais à frente) .
- Se tiver tempo, deve tentar controlar a asa. Através dos manobradores verificar como a asa reage; se tiver algum controlo tentar não a deixar interferir com o reserva, se isso não for possível, tente recolhe-la o mais possível de forma simétrica, é consensual que puxando os fios centrais que actuam no bordo de fuga (manobradores ) ou o próprio bordo de fuga a partir da parte central (mais simetria) se consegue um melhor controlo.
- Como o solo entretanto se aproxima rapidamente, deve preparar-se para o impacto (PLF-Rolamento)
Chegada ao solo
9. A chegada ao solo será a parte mais crítica relativamente ao sucesso que pretendemos obter, isto é sair ileso. Assim devemos estar preparados para "Chocar" com o solo da forma que nos for mais favorável.
10. Eu fiz o curso de pára-quedismo em 1977 com os paraquedas verdes e redondos, utilizados na altura pelos nossos pára-quedistas militares (penso que ainda se utiliza um modelo semelhante para saltos de treino e operacionais). A instrução em terra incluía treino intensivo de rolamentos de todos os tipos, saltos de uma torre com arnês de simulação etc etc. Um dos aspectos mais duros da instrução lembro-me eu, eram os tais rolamentos, que nos provocavam nódoas negras enormes nos locais que devem estar a adivinhar. Esses cursos davam grande importância ao problema da sobrevivência na chegada ao solo e os paraquedas não eram ( ou não são) muito diferentes dos nossos reservas e por isso o impacto com o solo era o grande problema, quando digo solo digo árvores, fios eléctricos, água, terreno montanhoso etc.
11. Segundo os especialistas, a melhor técnica para "chocar" com o solo é através da Parachute Landing Fall (PLF), que os nossos pára-quedistas chamam de Rolamentos. Não é exagerado o termo "chocar", porque a velocidade é aproximadamente de 5 a 6 metros por segundo, o que dá cerca de 18 a 21 km/h.
12. Não serei a pessoa mais indicada para explicar esta técnica, uma vez que temos muitos pára-quedistas a voar parapente e certamente sabem explica-la melhor que eu, é mais ou menos o seguinte:
Na posição de pé ( posição mais favorável, porque as pernas actuam como mola para absorver parte da energia), suspenso do paraquedas (bandas) pelos ombros, manter;
- os joelhos unidos;
- pernas ligeiramente flectidas;
- bicos dos pés a apontar para o solo a cerca de 45º;
- olhos no horizonte;
- queixo para baixo;
- punhos fechados e encostados fortemente por baixo dos maxilares;
- cotovelos junto do corpo e ligeiramente para dentro;
12. Bem, já viram que a coisa parece complicada, mas com treino conseguimos. Agora no choque com o solo vamos tentar usar as nossas pernas como amortecedor, os bicos dos pés para baixo servem para não chocar de calcanhares, o queixo para baixo para não batermos com a parte de trás da cabeça, os cotovelos para dentro para não expormos os cotovelos e braços etc. Ao atingir o solo vamos enrolar preferencialmente para a dta. ou para a esq, nunca de frente para não percutir o solo com a cara etc. e tentar que a linha que vai dos nossos bicos dos pés até ao ombro atinja o solo "rolando" tipo carimbo. Perceberam?
Ainda podíamos abordar em pormenor as diversas técnicas para quando na nossa trajectória apareçerem fios, árvores, água ou outros obstáculos, ficará para uma próxima oportunidade.
Caso algum pára-quedista queira complementar ou corrigir esta informação, talvez fique mais fácil de compreender.

Lançamentos inadvertidos
13. Já assisti a várias situações de reserva lançado inadvertidamente. Passo a explicar. Normalmente durante a fase de descolagem pelos mais diversos motivos, o punho foi actuado por raspar no chão, ou nos arbustos, alguém que ajudou a descolagem sem querer puxou o punho, estava mal seguro etc. etc, a verdade é que o reserva numa destas situações representa um perigo eminente. Não devemos descuidar as verificações antes da descolagem e quando tivermos ajuda avisar dos cuidados a ter com o local onde se segura.